quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Democratização financeira do futebol brasileiro sob risco

Confesso que fiquei um bom tempo buscando uma palavra que representasse o momento conturbado em que vive o Clube dos 13 e suas consequências para com os clubes. Cheguei à conclusão que seria democratização, porém em forma de metáfora. Em relação aos direitos de transmissão, podemos dizer que o futebol brasileiro é democrático.

Isto que podemos chamar de democratização é oriundo do esforço feito pelo Clube dos 13 na figura de Fábio Koff, que quer ao máximo manter o equilíbrio de nosso futebol. Porém ao longo dos tempos, fatores como globalização e audiência forçaram a ter uma classificação por grupos, de forma que as equipes do eixo ganhassem mais dinheiro. Esta divisão quase invisível ainda era tolerada pelos “grandes”, apesar das objeções, até que um fator implodisse esta insatisfação.

Indo ao que interessa. Os times do eixo Rio/São Paulo, mimados pela imprensa por serem fontes de audiência, buscaram mobilizar-se para tentar tirar Fábio Koff do poder na figura de Kléber Leite, ex-presidente do Flamengo e que contava com a simpatia da CBF. Perderam novamente a batalha, mas não a guerra, visto que a negociação pelos direitos televisivos viria a reviver este embate.

Prevendo uma valorização jamais vista do futebol brasileiro devido à Copa do Mundo no Brasil em 2014, o Clube dos 13 quer aumentar consideravelmente a receita obtida pelos direitos de transmissão, dividindo-a aos clubes da forma mais uniforme possível. A Record estaria disposta a chegar à oferta pretendida pela entidade, de forma a obter os direitos do esporte mais visto e lucrativo do nosso país. A Rede Globo dá mostras que não pretende melhorar significativamente a proposta em relação ao que apresenta atualmente, porém oferece toda a visibilidade, know-how e pressão política nos bastidores para manter-se no domínio do futebol brasileiro.

Utilizando a relação estreita com a CBF, a grande rede quer unir o útil ao agradável para manter-se na frente, valorizando os clubes mais importantes para a sua audiência e sem gastar muito mais que o previsto. O reconhecimento dos títulos de outras competições nacionais e de dois campeões em 1987 evidenciam tal fato, pois estranhamente um dia após ser reconhecido como hexacampeão brasileiro, o Flamengo desfiou-se do C13 para pleitear diretamente os direitos de transmissão de seus jogos, levando os outros grandes cariocas e o pioneiro Corinthians nesta batalha.

Desta forma, os clubes “grandes” fatalmente conseguirão valores maiores dos que vem recebendo, com o restante tendo que se contentar com o que sobrar ou com o que a outra rede vir a oferecer. Sem as “cerejas do bolo”, dificilmente a Record manteria uma alta proposta para o Campeonato Brasileiro. Se vê então um grande golpe político que derrubará a grande figura apaziguadora e equiparadora financeira dos clubes que fora Fábio Koff. Tal fato poderá representar em uma disparidade econômica, com praticamente todo o dinheiro da TV, principal fonte de renda, nas mãos de quatro ou cinco clubes, podendo gozá-los à vontade e gastar como vem gastando, com ar de grandeza extraterrestre e empáfia perante aos outros clubes.

Pelo que estou presenciando é um caminho sem volta para que isto aconteça, o que representaria no fim do futebol brasileiro como estamos acostumados. Haveria de forma artificial um processo que ocorreu naturalmente no futebol europeu com o efeito da globalização e da organização dos clubes, com dois ou três times por país exercendo um poderio de megapotência em seus países, abocanhando praticamente todos os títulos nacionais. Isso acabaria com a graça do futebol brasileiro, conhecido por ter 12 clubes em condições de títulos, que alternam bons e maus momentos.

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